quarta-feira, julho 30, 2014

Ah, vou jogar só um pouquinho ... NÃO, não caia na armadilha

Vou aproveitar que vim publicar a história do Luiz e falar de algo que me incomoda desde muito tempo: a falácia do "vou jogar só mais um pouquinho".

A dica é: NÃO É SAUDÁVEL PARA NÓS JOGAR, NEM 1H POR DIA!

Pode parecer radical e pode parecer desesperado, mas isso se trata como uma desintoxicação. Jogar 1h por dia não te desintoxica.

O argumento de que só um pouquinho de jogo todo mundo pode não é válido para quem tem o vício. É uma bomba relógio esperando pra estourar, e pasmém, ela sempre estoura.

O argumento de que todo mundo precisa de algum lazer, e por isso jogamos, também não é válido. Procure outras formas: ler um livro, ler Neil Gaiman, ver 24h de ponta a ponta, quaquer coisa! É lazer suficiente.

Por fim, o ócio leva nossa cabeça pra onde não devia. Use seu tempo livre de outra maneira:
- Vá fazer academia e corrida pra ficar bem e conhecer pessoas interessantes.
- Vá estudar qquer coisa do seu interesse: uma nova linguagem, um idioma, cheff, qualquer coisa. Nós gastamos de 2h-6h por dia jogando. Um curso profissionalizante tem 4h por dia. Dá pra imaginar o quanto podemos nos profissionalizar a nós mesmos em qualquer coisa com o mesmo tempo?

Cabe aqui o paralelo com vício em drogas. Nas clínicas de desintoxicação, alguem já ouviu falar dos médicos dando só um pouquinho de heroína para que seu paciente desintoxique aos poucos? Ou de pais que dão só um pouquinho de maconha para seus filhos irem parando aos poucos? Não parece o melhor tratamento, correto?

Tentem algo bem mais radical: 12 meses sem jogos. Esses 12 meses vão mudar suas vidas, assim como mudaram a minha. Pensem maior que isto ainda: vai mudar a vida também da sua família. 12 meses sem jogos testam sua força de vontade e você prova a si mesmo que é capaz de qualquer coisa.

Vocês vão ouvir de todos os lados de pessoas que são viciadas e conseguem conciliar a vida com um pouquinho de jogo. Não, isso não existe!!! Ou essa pessoa não é viciada, ou você nunca mais ouviu falar dela porque ela teve uma recaída e não voltou pra contar isso pra você.

A única coisa que você precisa é de sinceridade com você mesmo. Façam-se a pergunta: "baseado em todas as vezes que tive recaídas, eu realmente acredito que não vou ter mais uma se jogar só um pouquinho?". A primeira resposta que você vai ouvir de você mesmo é: "CLARO!!! Sou mais forte que esse vício!!".

Agora parem e perguntem novamente: "Tem certeza? O que te faz ter essa certeza?" Perguntem pro seu eu lá no fundo, aquele ser sincero e humilde que quase nunca aparece pra falar oi: "Tem certeza mesmo?"

A minha resposta pra mim 8 anos atrás foi dura: "Sim, tenho certeza que não sou forte". Chorei muito, me desconstruí, comecei um blog, tive recaídas por tentar jogar "só um pouquinho", me recuperei de novo, e mudei minha vida, tudo porque decidi não mais jogar uma horinha por dia.

Mantenham-se fortes, pessoal.

Histórias dos leitores.

Olá,eu conheci o seu blog sobre viciados em jogos eletrônicos e realmente gostei muito dele,alem de me identificar muitas partes,gostaria de deixar minha historia e se possível compartilha-la no seu blog e ter mais atualizações sobre a sua luta.Obrigado

Sempre fui fanático com a realidade além da normal,adorava games pois você poderia ser outra pessoa,além da pacata vida normal e sem poderes.

Meu primeiro console foi o Master System 3 que ganhei aos 5 anos,rodava sonic no cartucho e mais uns 20 jogos inclusos simples e foi meu primeiro contato com os games.

Como era criança,não ligava muito para aquilo,tinha amigos na rua,escola,minha irmã e passeios com a família e desenhos da tv globinho imperdíveis.

Meu gatilho para o vicio foi quando conheci o Ragnarok Online aos 7 anos,na época tinha acabado de chegar ao Brasil,e foi uma febre como o meu pc não rodava o jogo(Windows 98 na época, foi meu primeiro contato com as lan-house para jogar e eu amei aquele jogo a cada segundo.

Infelizmente(ou felizmente)menores so podiam acompanhados do responsável(na que eu ia era assim) e esperava ansiosamente final de semana para ir com a minha mãe quando ela se dispunha a ir.Durante a semana não parava de pensar no jogo incrível que era o ragnarok.Mas mesmo com 7/8 isso não era tão forte ainda fazia outras coisas normalmente de crianças e o Ragnarok era como um brinquedo cobiçado,nada alem disso.

Conheci o Tíbia e vi que funcionava no meu pc modesto,e foi uma fuga para o ragnarok durante a semana,no começo,não era mais que horas porque era apenas um joguinho e gostava de passear pelo mapa,mas no momento que comecei a entender o espirito do RPG de monstros,equipamentos,evolução etc...comecei a passar mais horas jogando,e tinha vezes que ia escondido de madrugada jogar,e quando minha mãe trancou a porta que leva ao quarto.Cheguei a quebrar uma janela ( a porta tinha uma janela)para tentar entrar(e isso eu com 9 anos).

Apesar disso e com sinais de abstinência e vicio era uma criança normal,me socializava,passava tempo com a família,brincava na rua.Normal.

Na minha pré-adolescência e adolescencia começou a piorar,consegui finalmente jogar ragnarok do jeito que gostaria e logo uma onda de desejo de compensar anos de frustração de nunca jogar o quão eu gostaria,me fez começar a ficar horas jogando a fim.Tive outros games no período como MU,PW,GunZ,C.S.Jogos de vídeo game eram legais e alguns eu passava horas mas nada comparado a fantasia do MMO.

Nesse período continuei sendo socializável,nunca fui uma pessoa com problemas de fazer amigos e nunca me senti só de verdade. Mas via que trocava muitas coisas pelo jogo e dinheiro em lan-house com promoções para muitas horas creditadas e o clima de competitividade na lan house.

Hoje tenho 18 anos sim sou novo,finalizei o ensino médio com um desempenho deplorável,e não passei pro vestibular de Geologia,profissão que almejo para mim apesar de ter tirado uma nota boa no ENEM.E esse ano prometi a mim mesmo que teria 100% do meu tempo voltado ao estudo,porem o jogo de League of Legends entrou na minha vida,e como muitos amigos meus jogam rapidamente fiquei viciado extrapolando completamente minha vida.No carnaval fiquei trancafiado em casa invés de curtir minha família e namorada para subir de Elo no jogo,e continuo virando noites e chego a ficar 12 horas de jogo por dia.Deixei de fazer academia,sair e meus relacionamentos foram comprometidos,senti uma sensação de vazio,passei a me alimentar mal,não cuidar da higiene pessoal,não tive foco nos estudos,a fé,a namorada me deixou.E essa sensação de vazio que sentia era substituída pelo jogo.

Moro com meu pai atualmente e ele rala muito e deseja de todo coração que eu esteja em uma posição boa na vida.E se preocupa com o jogo,apesar de ele não vetar meu uso ao pc.Ele diz que devemos formar nosso caráter e nossas escolhas.E essa sensação de querer trazer orgulho para ele é que esta me fazendo abandonar toda essa vida de vicio ha mais de 10 anos.

Escrevo essa mensagem em julho de 2014 ainda da tempo de voltar aos estudos e tentar a vaga para geologia em uma faculdade e sei que o vicio não será fácil de largar,porem espero ver minha vida pelo menos em 2015 muito melhor e também a todos ao meu redor.

Muito obrigado se leram toda a mensagem.

Meu e-mail:luizeduardojunior@hotmail.com

segunda-feira, outubro 07, 2013

Atualização 2013

Como sempre, o blog está parado, mas não abandonado.

Sempre procuro responder msgs no bpdvicio@gmail.com e aprovar as postagens.

Um dos e-mails que recebi foi do leitor C. (apenas a primeira inicial). Ele me perguntou o que foi que me fez parar de jogar, o que mudou na minha vida para eu abandonar o vício.

Vou responder com um texto longo.

O grande problema do vício em jogos é a sensação de satisfação imediata que os jogos trazem VS a morosidade e sensação de demora da vida real.

Você tem que pensar em todo o tempo que investiu em N jogos, e o que isso te trouxe de fato. Fora o tempo que você jogou cada um desses jogos, o que estar entre os melhores de um jogo te traz de benefícios hoje, de fato? 

Esse tipo de pergunta e resposta você tem que dar pra você mesmo, com toda a sinceridade. Ninguém tem mais interesse nessa resposta que você mesmo. Você pode argumentar que melhorou seu raciocínio lógico, que deixou sentidos mais aguçados, que te tornou uma pessoa mais feliz no geral, ou qualquer outro benefício, ou pode encontrar só malefícios, ou um pouco de cada coisa. Enfim, essa resposta você tem que se dar lá no fundo, e tentar descobrir o que ser um vencedor nos jogos te traz na vida real.

Tudo o que fazemos na nossa vida, seja jogar o dia inteiro, seja trabalhar o dia inteiro, seja beber ou dormir o dia inteiro, é o que vamos ter quando tivermos 60, 70 anos. O resultado final da nossa vida é a soma de tudo o que fizemos durante ela. Parece óbvio, mas as vezes não é claro.

Aí chegamos na pergunta do leitor C.: o que me levou a parar? Qual foi a gota d'água? 

Não teve nada tão claro assim não. Foi só o fato de olhar para minha vida, com 25 anos, com o total de horas que investi para ser o melhor em N diferentes jogos, e notar que estava no exato mesmo ponto que estava 5 anos atrás. Foi perceber que eu poderia chegar a 30, 40, 50, com exatamente as mesmas coisas que tinha com 20. E por "coisas" entenda-se não somente coisas materiais, mas coisas que eu aprendi, coisas que eu sou. 

Quando me fazia a pergunta "o que ganhei em 5 anos de jogo, e o que posso ganhar com mais 15 ou mais" , percebia que ia chegar aos 60 anos sem ter feito nada na vida, sem ter conhecido mais países, pessoas, comprados coisas legais, enfim, vivido de fato. Essa percepção demorou meses para vir à tona.

Quando comecei a comparar as N satisfações imediatas dos jogos com as 0 satisfações da vida real, comecei a entrar em pânico. Jogar não me trouxe nada de fato, a não ser felicidade momentânea.

Nesse ponto é sempre muito importante lembrar que não advogo nunca contra os jogos como entretenimento. Você jogar algo de maneira sadia te traz sim coisas boas pra vida. Entretenimento é vital para o ser humano, e jogar uma quantidade razoável te tempo te torna uma pessoa melhor, assim como jogar bola uma quantidade razoável de tempo, sair pra beber uma quantidade razoável de tempo, assistir filmes ou ler livros uma quantidade razoável de tempo.

O péssimo do vício em jogos e outros diversos vícios é te roubar tempo. E tempo não tem como recuperar ...

quarta-feira, maio 23, 2012

Sobre o blog ...

Vou acabar assumindo que a frequencia de postagem atual é de 1x por ano. :-)

Primeiro queria dar uma resposta a todos os pedidos de contato por e-mail, tel, entrevista, etc. Quero muito poder ajudar a todos os que passam pelo mesmo, ou que tenham alguem que amam passando por isso, e este é o objetivo principal do blog. Meu tempo hoje é curtíssimo, com um emprego tomando conta de 50% e a família dos outros 50%, mas mesmo assim quero poder responder perguntas e ajudar como der.

Todos os posts do blog podem ser usados em jornais, revistas, sites, onde acharem melhor, mas é sempre legal citarem a fonte para que as pessoas possam conhecer a origem e debater os problemas nos comentários, quando quiserem.

Para continuar mantendo a privacidade, criei a conta de e-mail bpdvicio@gmail.com . Quem quiser mandar perguntas, entrevistas, pedidos, o que quiserem, é só enviar. Posso demorar um pouco pra responder, mas vou sempre tentar manter atualizada a caixa de entrada.Obviamente, da mesma forma que prezo meu anonimato total, manterei o anonimato de quem quiser se comunicar.

O blog vai continuar, assim como eu vou continuar. Podem ter certeza que vou continuar mantendo a minha história como uma história de sucesso nessa luta. Digo isso porque o gosto de vencer na realidade é tão mais intenso e tão mais durador que na outra vida, que não tem nem como começar a comparar. :)

Mensagem a todos: saiam dessa, encarem o problema de frente e deixem de ser escravos dos jogos. Vale muuuuito mais a pena. :)

quinta-feira, abril 28, 2011

E a vida continua

1 ano e meio depois do último POST, a vida continua.

1 filha nascida, outra a caminho, uma carreira maluca, sem tempo nem pra pensar na vida, quanto mais pensar em mundo virtual.

Nada melhor do que descobrir a magia e a recompensa da realidade. O caminho é mais longo e mais árduo que no mundo virtual, mas a sensação de dever cumprido e a consciência limpa são muito maiores do que qualquer coisa que qualquer jogo pode trazer.

Precisamos ter força para nos manter no caminho REAL, e fugir do virtual. Um dia os jogos se vão, a saúde se vai, e quando olharmos para o lado, veremos que não restou nada, ninguém, somente nós, sozinhos, esperando a próxima febre e torcendo para termos condições de sobreviver por mais algum tempo e jogar por só mais um dia, porque, afinal de contas, podemos parar a hora que quisermos, estamos aqui por opção. A vida REAL é perene, a virtual não.

Terminar qualquer jogo, alcançar qualquer objetivo num RPG, derrotar qualquer um no PvP, alcançar o top 5 em qualquer ranking, nada se compara a chorar de felicidade junto da amada por algum motivo mágico, a ver o sorriso da sua filha quando coloca o pé em casa depois de um dia de trabalho, a terminar uma faculdade e colar grau depois de 4 anos de ralação, a entregar um projeto no trampo depois de 1 ano de sacrifício.

A recompensa no jogo é mais rápida, mas nunca será mais intensa que a vida real.

Fica aqui a mensagem de quem já esteve dos dois lados e não troca NUNCA o que estou vivendo agora pelo que vivi no passado. Nem por 5 segundos.

Vamos sair dessa vida, galera. No que eu puder ajudar, estou aqui.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Sempre forte

Faz muito tempo que não posto nada aqui.

A boa notícia é que não ocorreram recaídas, jogadas secretas, ou nada disso.

Estou a muuito tempo sem jogar, e isto não faz falta na vida. Depois de 12, 13 meses, fica fácil. Você povoa a sua mente com a vida real, fugindo do mundo imaginário, e fugindo da fuga.

A mensagem para todos é: mantenham-se fortes, e mantenham-se longe do que faz mal a sua vida. O quanto subi na vida desde que parei com os jogos é ridículo. Nunca teria conseguido se ainda perde-se tempo nos jogos.

segunda-feira, julho 07, 2008

1 ano sem jogos

Estou me aproximando agora a um ano sem jogar ... ou quase :-)

Joguei neste ano exatamente:
- Um joguinho de quiz de músicas de filmes e seriados antigos, com a minha esposa.
- Meia partida de paciência, também com a minha esposa.

E, para ser completamente sincero, não senti nem perto da falta que eu achei que sentiria. Quando tomei a decisão de não jogar mais, por pelo menos um ano, achei que iria ficar pensando nisso, tendo calafrios, síndrome de abstinência, etc. Mas estou tão longe disso tudo que dá até gosto.

Cada vez mais acho que com força de vontade suficiente e com o apoio externo, que é imprescindível, tudo é possível. Você pode ir atrás de algum objetivo que parece impossível, pode mudar sua vida, pode fazer o que quiser, basta querer.

A receita para sair de um caminho ruim, sair de um ciclo vicioso destrutivo, ir numa direção boa, é só uma. Acreditar que é possível e seguir nesta direção sem perder a fé. Simples e infalível.

Minha vida sem alienação, sem preocupações, sem culpa e sem mentiras é algo tão bom que não dá para explicar. Corram atrás de uma vida sem vício, e não se arrependerão !!

terça-feira, junho 03, 2008

Mais comentários no blog

Vou escrever um pouco para falar sobre o comentário abaixo:

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Gente, eu sinto muito dizer pra vcs mas acho q vcs tão sendo radicais demais, eu jogo, gosto de jogar, jogo com minha família e namorado. Me divirto muito com eles e a gente interage demais. Ao mesmo tempo faço muitas coisas, tb assisto filme, vou a faculdade, trabalho e estou fazendo minha monografia agora que eh sobre jogos eletrônicos, percebi que jogos não é só bom de jogar como tb de estudar. A questão é que tem gente q não quer fzer mais nda além de jogar e o maior problema está na pessoa e não nos jogos.
Assim como os jogos, tudo q vc faz, se não for feito com um certo limite e moderação vai te prejudicar com certeza.
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Eu realmente tenho que concordar com este comentário em um ponto, mas discordar em outro.

O problema em qualquer vício "legal" está nas pessoas SIM, e não no vício. A maioria das pessoas pode beber normalmente, e até chegar ao famoso "beber, cair e levantar", e não se viciar. Tem pessoas que fumam maconha uma ou duas vezes por mês, e não são viciados. E tem muitas pessoas que jogam sozinho, com a família, online, etc, e também não são viciados. Tentar criar qualquer proibição de jogos, bebida, cigarro seria arbitrário e radical, punindo todos aqueles que não tem nenhum propensão ao vício.

As bebidas são boas para relaxamento e facilitam a interação social. O cigarro antigamente era sinônimo de glamour. Os jogos divertem, relaxam, ajudam a interação, e determinados jogos ajudam a educar as crianças e adolescentes. Tudo isso é fato, e eu nunca questionei.

Mas o outro ponto é que existe uma parcela de pessoas - na china estimam em 10% - que tem uma propensão e se viciar em jogos eletrônicos. Não quer dizer que 10% das pessoas que jogam se tornem viciadas, mas que uma parcela destes 10% acabam entrando um um ciclo de comportamento extremamente prejudicial.

O que falta - e a monografia da autora do comentário é um exemplo de um local perfeito - é mais informação sobre o vício. Os pais não devem deixar de comprar um video-game para os filhos, mas devem estar cientes de que existe um mal relacionado ao video-game, e eles devem estar atentos a determinados comportamentos para identificar se os filhos têm ou não a propensão ao vício. O adolescente ou adulto que compra um video-game também precisa estar ciente dos malefícios existentes.

Nas bebidas temos o famoso "beba com moderação". Nos cigarros as mais famosas ainda "faixas azuis" com fotos intimidadoras. Simplesmente uma pequena tarja ou aviso nas caixas dos video-games ou dos jogos já atrairia a atenção de muita gente para o fato.

Diga não à proibição, mas por favor, diga sim à informação!

sexta-feira, maio 30, 2008

Disponibilizada a assinatura de RSS

Arrumei o link com os posts em formato RSS.

Como eu não atualizo com uma frequência muito grande, quem tem vontade de acompanhar um pouco do que eu tenho pra escrever precisa ficar entrando a todo momento pra ver se tem novos posts.

Para quem não tem conhecimento sobre o que é assinar um RSS, o melhor modo de aprender é pela wikipedia, acessando http://pt.wikipedia.org/wiki/Rss.

Espero com isso facilitar a vida de quem lê este blog.

Abraços

Criação de Fórum para debates

Algumas pessoas, a grande maioria sem deixar e-mails ou alguma forma de contato, deixam depoimentos ou fazem perguntas as quais eu nunca tenho como comentar ou responder somente pela falta do contato.

Resolvi criar um fórum para que todos que quiserem discutir a respeito de vícios, sejam contando experiências, seja fazendo perguntas, tenham um canal de comunicação para isso.

Tentei deixar tudo o mais anônimo possível neste fórum. Se alguém conhecer mais a respeito e sugerir alguma mudança lá para que fique ainda mais anônimo, é só avisar.

É só acessar http://vicioemjogos.forums-free.com/ e começar a usar.

Vou verificar o mais frequentemente possível se existem novos tópicos e responder ou comentar sempre que eu puder.

Grandes abraços a todos.

quinta-feira, maio 08, 2008

Debate de leitores no Blog

Achei interessante colocar aqui duas opiniões bastante diferentes que apareceram em um dos posts antigos.

Opinião 1

O que comentar disso ae? Na verdade senti tristeza da pessoa que escreveu, e nenhuma pena para as pessoas que se tornam viciadas. Quando é que o mundo vai entender q a CULPA dos nossos atos são só NOSSAS? Quando é que as pessoas vão entender q o pior(melhor?) dos nossos problemas é q ngm tem nada com isso? Ngm nem vc que escreveu é VÍTIMA de nada. Se vc é compulsivo, vc será com UO, com Sexo ou com qualquer outra coisa. Vá se tratar. A culpa é sua, não dos jogos. Eu jogo MMORPG e outros jogos como vc citou, Starcraft entre outros, tenho uma namorada, meu relacionamento está ótimo, curso psicologia numa universidade federal difícil e minha vida familiar é bem agradável. Acho que vc deveria apontar para outras causas e problemas. Vício existe em qualquer lugar, e todo vício estraga a vida das pessoas. Sendo de crack como sendo de computador. Mas o crack e o computador nao matam as pessoas, são elas mesmas que optam por faz~e-lo.

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Opinião 2

Sobre o Primeiro comentário.

Devo discordar do que foi dito, embora não tenhamos responsabilidade direta sobre o vício de terceiros, não devo me abster de reconhecer os males citados pelo declaração contida no blog. Somos seres sociais, e dentro deste "organismo" social somos co-responsáveis quando não nos mobilizamos, seja por nos manifestarmos sobre, educar nossos filhos, transmitir boas exortações para amigos, etc.

Dizer que a culpa não é de ninguém seria o mesmo que, ao ter a chance de alertar, ver alguém cair em um buraco e ao invés de avisar ou depois ajudar o caído dizer que a culpa é dele por não ter atenção ou que é de quem fez o buraco (ou fazendo uma analogia com o que foi afirmado no primeiro comentário, que a culpa não é de ninguém pois o buraco já estava lá).

Pessoalmente, não acho que devamos eliminar tais jogos (além de não sermos capazes de tal feito, os jogos ainda tem um fator didático e desenvolve muitas faculdades mentais), mas devemos sim procurar por entretenimentos mais sadios, exigir que tais riscos existem para os que jogam, exigir o que nossa constituinte nos assegura, o direito de vetarmos algo nocivo ou controlarmos tais males.

É nossa responsabilidade como ser humano consciente.

É minha singela opinião.

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Meus pitacos

A opinião do primeiro leitor é bastante forte e controversa, tanto que já tinha colocado aqui os meus comentários a respeito, mas sempre vale reiterar.

Não sou a favor de acabarmos com os jogos, assim como não sou a favor de acabar com as bebidas. Mas todos sabem dos possíveis males das bebidas e todos sabem dos possíveis males dos cigarros e todos sabem muito mais dos possíveis males das drogas. O que falta no mundo dos jogos é apenas informação.

Quando se diz que o vício em jogos existe, não estamos especulando, estamos atestando um fato, e é aí que começa o problema. O fato é muito pouco difundido e informado, e aquelas pessoas que tem a tendência ao vício não ficam sabendo que existe um perigo ali (de novo, apenas para as pessoas que tem a tendência), e portanto não ficam de sobreaviso para observar possíveis transtornos de comportamento.

Não gostaria nunca de ver nenhum jogo proibido (como já aconteceu no caso da proibição do CS - Counter Strike - no Brasil), pois essas decisões são arbitrárias e tiram nosso direito de escolha, mas por outro lado a falta de informação é extremamente prejudicial. Uma simples mensagem em todas as embalagens de jogos, talvez nos manuais, seria um grande primeiro passo. Mas acho que até isso é utopia. Não é do interesse de uma indústria de bilhões de dólares ao ano alertar sobre um possível perigo na utilização de seus produtos. Mas tenho fé, pois a indústria do cigarro também é bilionária, e até ela teve que acatar os famosos avisos em suas embalagens.

Ao psicólogo em formação eu tenho a dizer que é um felizardo, e que não precisa se preocupar com transtorno comportamental e emocional em relação aos jogos. Espero que ninguém próximo a ele tenha este problema, pois aparentemente não receberá ajuda dele. Espero mais ainda que nenhum futuro paciente tenha algum problema de adicição em jogos, bebida, sexo ou qualquer outro, pois seria informado que a culpa e a responsabilidade é unicamente dele, e ele deveria se tratar (que é aliás o motivo dele ter ido ao consultório).

Lembro também que uma forma muito eficiente de "se tratar" é escrever a respeito para exteriorizar tudo o que se está sentindo, seja no seu computador, só pra você, ou seja num blog. Se você puder debater isso com outras pessoas que tenham também o problema, ou que conheçam alguém que tenha, melhor ainda.

Só para frizar, não quero nenhum proibição, quero apenas difusão de informação.

()s,

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Bate Papo instantâneo

Coloquei logo acima dos links, a direita, a nova funcionalidade que o google lançou. Ela permite que qualquer pessoa possa falar anonimamente comigo. O interessante é que os dois lados ficam anônimos, preservando a identidade tanto do leitor quanto a minha.

Não tenho a menor idéia de que alguém venha a utilizar isso, ou se está de fato funcionando, mas vale a pena testar. Espero com isso poder falar diretamente com pessoas que estejam passando pela agonia de não conseguir parar de jogar, de usar a internet, não importa a que preço.

Uma das coisas que eu aprendi mais durante este tempo todo de abstinência total de jogos (nem paciência eu jogo desde julho de 2007) é que com o tempo fica mais fácil, e o mais difícil é o começo. Outro ponto importante é que a vontade dura uns 5 minutos, e é sempre aconselhável que você fique longe do computador, ou pelo menos fazendo outras coisas que não te levem a iniciar uma partida. Chegamos assim no meu objetivo: se você quer parar de jogar realmente, mas está tendo uma recaída, fale com alguém que conheça o problema e permaneça falando até que a vontade diminua. E se você ainda não quer contar para ninguém, use o Chat do google pra falar comigo, pra deixar a vontade ir embora.

Não garanto que estarei o tempo todo disponível, mas a hora que eu estiver garanto que vou falar com você de bom grado. O horário mais fácil de me encontrar, uma vez que só uso o computador no trabalho, é no horário comercial.

Se eu conseguir ajudar uma pessoa com esse bate papo, já vai ter valido a pena.

Por fim, se esforce para ficar longe dos jogos se isso tem se constituído um problema para você. É muito gratificante ter a vida de volta, e só depende de sua força de vontade.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Mais histórias

Novamente posto histórias que foram colocadas nos comentários. Cada vez mais reportagens vão aparecendo e histórias vão sendo contadas a respeito do problema. Abaixo coloco as duas que me mandaram.

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11 de Dezembro de 2007

Apesar de viver do outro lado do atlântico, o teu comentário é quase um espelho da minha vida. (Não tenho pesadelos, mas sonho com jogos quando paro de jogar, estes sonhos misturam-se com cenas quotidianas). Ignoro problemas, deixo coisas importantes para depois (que antes seria impensável), por vezes ignoro a minha noiva sem querer. Desisto facilmente para o jogo quando aparece um problema... que antes resolvia num piscar de olhos.

Tenho também um futuro cunhado 9 anos mais novo com 19 que não é capaz de parar de jogar um jogo chamado Tibia, ele passou um ano e meio nesse jogo, e os pais dele ainda não tomaram a consciência devida ao problema. Eu pelo menos tenho uma vasta experiência na minha área, mas ele nada :(.

Eu estou num doutoramento (irónico, porque está em águas mortas agora). Há uma capacidade de concentração que perdi há uns anos quando houve um intervalo longo na minha vida após a graduação, tenho tido um apoio muito forte da minha noiva, as recaídas acontecem facilmente assim que se perde algum controlo. Tento distrair-me com outras coisas, mas facilmente caio na teia novamente.

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12 de Dezembro de 2007

Oi! Também encontrei seu blog pelo artigo da revista Época. Eu estava procurando notícias sobre esse novo vício porque minha vó tem tido comportamentos estranhos e até então não sabia identificar.

Pois é, pra quem achava que isso era coisa de jovens, não é. Minha vó comprou um computador há alguns meses e me pediu para ensiná-la com algumas coisas. Pois bem, ingressei ela no mundo digital, msn, bate-papo, jogos online e comunidades tipo orkut. Me espantou como ela pegou a "manha" rápido. Acho que por causa da idade dela não se interessou em jogos mirabolantes, mas comecei a perceber que quando ela não tinha amigos online ela se limitava a jogar paciência. Para vc ter uma noção, entro no meu trabalho às 9hs da manhã e saio às 18hs e nesse período a minha vó sempre está online no messenger, fora o horário que eu volto pra casa. Já notei até algumas vezes em que ela diz boa noite, entra no quarto e assim que faço o mesmo ela volta ao escritório e retoma seu novo vício.

Cheguei a entender que isso não era normal quando numa queda da conexão a deixou extramente irritada e dizia que eu como "jovem entendida" deveria consertar. Na hora disse que eu estava ocupada e ela começou a resmungar. Quando a internet voltou, senti como se ela tivesse ficado embaraçada com a situação e até mesmo com vergonha por ter discutido por uma coisa tão pequena, mas não me disse nada.

Hoje ela participa de mais de 5 comunidades diferentes, entre sites de encontros ou tipo comunidades como o orkut.Percebo também que ela esquece de comer algumas vezes ou leva o prato até o computador, até a novela das 8 perdeu a vez.

Ainda não encontrei um modo de dizer isso a ela. Ontem mesmo ela deixou de fazer alguns afazeres domésticos e chegou a deixar comida no forno passar do ponto. Mas como dizer isso a avó? Uma aposentada que aparentemente encontrou um mundo novo e "antenado". No dias atuais, idosos não têm muitas opções de lazer e mesmo sabendo que a internet está prejudicando sua vida, é difícil fazê-la abandonar um vício que está "completando" seu dia.

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Sempre é difícil para mim ler outras histórias sobre vício em jogo, vício em internet mas paralelamente fico feliz que pessoas próximas ou mesmo a própria pessoa que está enfrentando o problema estão tentando e conseguindo saber mais sobre o problema por reportagens ou blogs.

Quando você está na faculdade (ou pós graduação) acontecem muitas mudanças na sua vida. No meu caso eu acabei recebendo uma liberdade instantânea por ir morar fora de casa, e isso me deixou perdido. Aquilo que eu mais desejava na época acabou ajudando a me fazer perder o norte. Além disso veio a pressão por resultados nas provas, novas amizades, festas, o que fazer quando eu me formar, e um tanto de auto-sabotagem (mas isso já é outra história), etc. Eu precisava escapar de algum jeito, senão ia explodir.

O que eu mais aprendi a respeito desse vício, e que vou levar comigo para o resto da vida, é que é mais fácil você esconder os problemas e dificuldades do que enfrentá-los. É muito mais fácil fingir que nada de ruim está acontecendo, e passar o tempo todo fazendo coisas que dão prazer imediato. Você não resolve nada da sua vida e, no final do dia (ou quando você não aguenta mais), você está tão cansado que consegue dormir tranquilamente, o que não seria possível se estivesse pensando nos problemas diretamente. No dia seguinte você se sente culpado por não ter enfrentado os problemas, e isso faz mal, e novamente o refúgio é o jogo, a internet. No outro dia você se sente tão culpado de estar se escondendo por dias dos problemas que a primeira coisa que te passa pela cabeça quando acorda é jogar. A idéia de encarar tudo o que você perdeu e deixou de fazer dói tanto, que a única solução é continuar jogando. O ciclo é interminável, e só tem uma quebra quando alguma força externa age nele. Um parente que te dá um esporro, um semestre de faculdade jogado no lixo, a faculdade inteira jogada no lixo, o chefe que dá um ultimato, ou mesmo manda embora logo, o prazo que passa, o adiamento do prazo que também passa, sei lá, alguma coisa que nos faça acordar.

Nós não somos menos porque somos pessoas com problemas com este vício, nós estamos menos naquele momento em que deixamos o vício tomar conta. Somos exatamente a mesma pessoa quando estamos jogando sem parar ou quando estamos "sóbrios", mas gastamos toda nossa energia e emoções no mundo virtual ao invés de no mundo real. Nós apagamos e gastamos tudo o que há de melhor, tudo o que brilha em nós, no lugar errado. Mas basta ter força para sair, para quebrar o ciclo destrutivo de se esconder, e depois de uma "ressaca" podemos voltar ao normal. Essa é a hora mais difícil. Encarar tudo o que foi jogado fora, olhar o leite derramado, encarar a merda que você fez, pisou e sentou, e perceber que não importa tudo o que você fez, desde que a partir de agora você faça as coisas certas.

Sempre que leio parágrafos como esse acima me sinto como se tivesse lendo textos com chavões de auto-ajuda. Mas digo tudo com experiência própria. Quando você resolve encarar os problemas e - principalmente - compartilhar com pelo menos mais uma pessoa explicando a seriedade do que você está passando, tudo começa a parecer mais fácil. Encarar o problema é o primeiro passo; com isso você consegue quebrar o ciclo. O segundo passo é ter mais alguém junto com você para enfrentar tudo, senão fatalmente você voltará para o vício.

Se você conhece alguém que está passando por algo parecido, não force nada, não tente apontar o erro diretamente, não a julgue ou culpe por nada. A pessoa sabe que está fazendo algo errado, só não tem idéia de que isso possa estar afetando muito mais do que ela acha, e ficar apontando erros e defeitos só vai fazê-la se sentir pior e querer se esconder o mais rápido possível. Ela só vai encarar o problema quando tiver certeza que é um problema sério.

Como hoje existem muitas matérias, textos, etc que falam a respeito, o ideal (pelo menos o que funcionou comigo no começo) é mostrar alguns textos, tentar mostrar que existe algo que está acontecendo com cada vez mais gente, e que pode acabar com a vida de pessoa, ou no mínimo uma grande parte. Mostre que você está preocupado com ela, e não nervoso por o que ela estar fazendo ser errado. Tenho certeza que a mudança não é imediata. Ela não vai olhar pra você e dizer "nossa, você está certo, vou parar com isso". As campanhas anti-tabagistas esperam convencer as pessoas com informação, e não com opressão ou julgamento. Se existir a abertura para uma conversa mais franca, faça tudo menos "passar a mão na cabeça". O que a pessoa está fazendo é errado, e ela precisa mudar as atitudes, e vai ser difícil, e ela vai ser a maior responsável por continuar ou parar. Você oferece apoio para conversar, para que ela desabafe, dá conselhos, mas não pode nem dizer que a vida é assim mesmo, que ela é uma vítima, nem tentar proibí-la de jogar ou navegar.

Infelizmente somente a pessoa que está passando pelo problema poderá decidir se quer sair ou continuar. Quem está em volta pode oferecer a mão, o braço ou o corpo todo, mas se ela não agarrar por conta própria, não dá certo.

Como digo em quase todos os posts: só espero que cada vez mais informação a respeito surja e alcance o maior número possível de pessoas, pois esta é a única maneira de quem tem o vício poder combater em pé de igualdade.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Mantendo-se longe

Inspirado obviamente pelo comentário deixado no blog que eu coloquei no post anterior, vou aproveitar e escrever um pouco sobre o meu dia a dia com a abstinência do jogo. Como ele bem frisou, cada um tem a sua história com o vício, cada um tem o seu motivo para decidir que definitivamente estava na hora de parar de jogar, e cada um tem a sua forma de conseguir se manter longe o máximo de tempo possível. Acredito que qualquer tempo que a pessoa conseguir se manter longe já é valiosíssimo. Uma semana, um mês ou um ano no fim acaba tendo o mesmo peso: você saber que quer ficar longe disso e estar fazendo alguma coisa a respeito.

No meu caso, na minha pior época do vício, eu passava literalmente umas 12 horas jogando, 6 ou 7 dormindo e as 5 ou 6 que sobravam comendo, vendo TV e invariavelmente pensando no jogo. Como muitas vezes eu sonhava com jogos, pode se dizer que ás vezes eu ficava em contato com o vício 24 horas por dia. Quando não estava jogando estava pensando no jogo.

Como falei em outro post, eu morava numa república com mais dois que estavam bastante viciados, e quando saíamos todos para comer fora, levamos vários "vai tomar no cu" por que só falávamos de jogar, de estratégias, dos inimigos, etc. Nunca cheguei a ter episódios de entrar no estado de transe do jogo sem estar jogando, mas já tive pesadelos por causa de jogar muito, e passar mau a ponto de quase vomitar depois de horas intensas de jogo. Não sei se o cérebro queria mais ou não aguentava mais.

Por incrível que pareça, nada disso me fez querer parar de jogar. O ponto da virada foi após começar a trabalhar, e logo depois começar a namorar a minha atual esposa. Nessa hora eu vi que a vida era bem mais que jogar, beeeeem mais, e o medo de perder todo o pouco que tinha sido construído foi bastante determinante. Mas este momento é só o começo da luta, talvez o mais importante, pois é o momento de admitir que você tem um problema sério, e começar a tentar resolvê-lo. Depois de muitos períodos sem jogar, alternando com jogar pouco, até chegar na recaída que eu contei, cheguei no ponto que estou agora. Mais de 3 meses sem jogar nem paciência, e bastante feliz, sem crises de abstinência, sem vontades que precisam ser controladas a todo momento. É realmente possível, é só encontrar a real motivação para parar de jogar e se apegar a isso com todas as forças.

Eu trabalho com internet 10 horas por dia, e portanto estou sempre a apenas um endereço de baixar um jogo ou encontrar um joguinho online. Tenho que ser muito atento, mas acredito que estou cada vez mais no controle. Não existe controle depois que você começa a jogar, mas você tem até o momento de entrar no jogo para criar força de vontade para ficar longe, e isso é tempo o suficiente.

Eu fiquei outros períodos grandes longe do jogo, mas como meu contato era zero, acredito que isso me fez ficar com mais vontade. Hoje acabo acessando algumas notícias de jogos da UOL, lendo na folha o que está saindo de novo por aí, e acessando um site específico de notícias de jogos casuais, e sempre que faço isso sinto uma mescla de "como será esse jogo" com "jogar isso estragaria tudo", e assim vou me mantendo longe. Vejo o jogo e sinto o potencial de vício que ele pode exercer nas pessoas, e principalmente que área dele me atrairia. Me insiro em segundos no mundo que o jogo promete, e tenho horror do que aconteceria se eu entrasse lá agora.

A vida real exerce muito mais atração que a vida virtual. Como no meu caso o que mais me envolvia nos jogos era "chegar no final", "desenvolver ao máximo o personagem", "resolver o problema/enigma" ou "encontrar o caminho", acabo consciente ou inconscientemente tentando o mesmo no mundo real:
- Tenho sempre uma séria de pequenos objetivos como arrumar determinada parte da casa, consertar o carro, comprar o que está faltando pra casa, consertar um bug específico no trabalho, etc, que mantém a cabeça ocupada.
- Objetivos de médio prazo como terminar um projeto no trabalho, juntar um pouco de dinheiro para uma compra maior, começar a economizar dinheiro pra por na poupança, entrar na academia, etc.
- Objetivos de longo prazo como comprar um carro novo, fazer uma grande viagem para o exterior com a minha mulher, me preparar para no futuro ajudar os pais e sogros com o que precisarem.
- E finalmente objetivos de vida. O que eu quero fazer da minha vida, o que eu quero ser, que objetivos eu gostaria de ver cumpridos quando eu estivesse com meus 80 anos. Ter uma empresa, uma loja, uma academia, uma aposentadoria, filhos, netos? Os sonhos vão em mil direções, e o importante é estar preparado para seguir na direção que você quiser quando chegar a hora.

Assim mantenho minha cabeça ocupada com coisas importantes, com construção pessoal (vs construção do personagem), com objetivos de curto, médio e longo prazo (vs terminar um jogo ou encontrar a arma x), e vou me mantendo longe do jogo. Hoje em dia, todas as vezes (graças a deus poucas por enquanto) que me pego pensando: "ah, hoje o dia está pesado, eu mereço jogar um pouco", ou "que bosta, não estou produzindo nada, então vou jogar" e outros similares, penso imediatamente: ou vou pra casa e faço alguma coisa útil, já que no trabalho não está dando nada, ou deixo o trabalho de lado e vou pesquisar coisas úteis na internet que façam alguma coisa por mim.

Eu tenho uma necessidade, desde criança, de fantasia. Sempre me apaixonei pelos mundos e ambientações de Isaac Asimov (ficção científica), Tolkien (Sr. dos anéis), Agatha Christie e Edgar Alan Poe (Mistério), para ficar só nos livros. Devo ter começado a ler com uns 10, 11 anos. Antes disso eu criava labirintos e mini jogos em papel e caderno, ou seja, desde sempre eu quis brincar com a criação de lugares, ou com estar em lugares criados por outras pessoas. Hoje em dia eu me pego pensando toda hora que devia escrever um livro sobre qualquer uma das minhas viagens criacionistas, ou por mais paradoxal que pareça, criar um jogo para extravasar tudo o que passa na minha cabeça de tempos em tempos. O que tinha feito até hoje foi gastar imaginação e energia vivendo em outro lugar, e pus na minha cabeça que tenho que gastar essa energia criando.

Como preciso alimentar essa fome de fantasia, hoje eu leio muito. Ficção, romances históricos, ensaios, tudo o que aparece na minha frente. E quando não tem nada novo para ler eu releio livros antigos. Sempre tomo o cuidado para isso não se tornar um novo vício. Fecho o livro e paro de ler se minha esposa fala comigo, fecho o livro e paro de ler se estou com sono, fecho o livro e paro de ler se está na hora de ir para algum lugar. Não quero substituir um vício pelo outro. A pena é que leio rápido demais.

Como foi falado no comentário que eu reproduzi no post anterior, cada um tem a sua forma de lidar com o seu dia a dia, e eu tentei contar um pouco de como eu faço. Achei minha motivação e minhas medidas paleativas para me manter longe e espero que elas sejam suficientes. Se não forem, não é o fim do mundo. Vou ter passado um tempo sem jogar e vou descobrir novas formas de me manter longe, até que isso não seja mais algo que me tome os pensamentos mais do que uma pequena lembrança do passado.

Comentário do último post.

Vou apenas copiar e colar o comentário que deixaram no último post, pafa colocá-lo em evidência. Não vou introduzir, nem apresentar, nem nada, pois ele já diz tudo. É muito bom conhecer gente tão esclarecida e que ataque o problema de frente. MMORPG eu também já me viciei (as vezes me pergunto no que eu não me viciei), e esse pega pesado.

Todas as mensagens que acabo recebendo sempre me ajudam, e muito, e a sua não é excessão. Sempre acho triste descobrir mais alguém que está ou esteve com esse problema, mas por outro lado o fato do assunto ser mais e mais divulgado ajuda a diagnosticar mais pessoas para que elas possam ser ajudadas, ou pelo menos se ajudar. Vou bater nessa tecla até o fim: o vício existe, e só não se descobre tantas pessoas viciadas porque elas não sabem!

Um grande abraço e que você continue firme fora do mundo virtual. Acredito que nosso esforço para ficar longe, por mínimo que seja, sempre vai valer a pena.

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Saudações.
Conheci seu blog hoje, e li as suas últimas mensagens (3 últimas) e fico feliz de saber que você está em uma recuperação. Mas fico triste de saber que outras pessoas passam pelo mesmo problema que eu, afinal, achava que esse problema não era tão comum. Minha história não é muito parecida com a sua, mas com certeza já tivemos algumas experiências comuns.

Minha luta com os jogos já vem de pelo menos uns 6 anos (tenho 25). Digo 6 anos porque antes desse tempo eu não queria parar, só jogava. Decidi parar por volta de 2001.

Estou novamente em uma abstinência, já faz 1 mês que não jogo. Meu vício é com MMORPG. Conheço diversos e já joguei um monte. Quando jogo minha minha alegria depende disso, porque fico contente o dia inteiro já que sei que à noite poderei matar um monstro especial, pegar um item diferente, semana que vem poderei entrar em um clã, mês que vem poderei ter habilidades novas e lutar contra jogadores experientes e por ai vai. Seu combustível emocional vira a realidade do jogo.

Essa última abstinência que tive foi motivada por um fato que realmente me assustou. Sabe aquela espécie de transe que entramos quando jogamos? Não percebemos nada em volta e ficamos numa espécie de concentração plena, algo meio que suspenso no ar, não sei explicar. Bem, estava na cozinha e minha mãe falava de algum assunto que não lembro. De repente percebi que tive um transe desses, na cozinha, olhando para a minha mãe. Foi algo rápido. Quando acabou veio aquela sensação quando acordamos após um sonho: estou acordado, isso é a realidade ou é um sonho? Percebi que tinha acabado de perder contato com a realidade involuntariamente, não estava pensando em nada naquele momento e nem concentrado em algum tema, simplesmente o transe veio e se foi. Na minha interpretação, acho que por um momento não consegui distinguir entre realidade e ficção, tudo já estava virando uma coisa só. Nesse momento, resolvi tentar uma nova abstinência, mas vamos ver até quando, já estou cansado de recaídas...

Bem, mas entrei para falar algo que talvez lhe possa ser útil. Durante esses anos, o máximo que já consegui ficar sem jogar foram 6 meses, por isso, como já tive um grande número de recaídas, percebi alguns padrões em todas elas. Em resumo, vou contar os padrões que percebi comigo, claro que muita coisa pode ser diferente de sua experiencia, nem tudo pode bater com a sua personalidade, com você, mas talvez seja útil.

No começo da abstinência, após um forte período de jogatina, meses ou anos, normalmente, devo dizer que a euforia é grande, você fica muito feliz. Dá vontade de sair por ai gritando que você está livre, de contar para todo mundo que sua vida mudou. Você percebe tudo o que você perdeu nesse tempo, você percebe o quanto jogar é inútil, e ainda pior, percebe o quanto ele pode ser destrutivo para a sua vida. Isso comigo, pelo menos, é sempre assim.

Mas depois de um tempo, normalmente alguns meses, com as desilusões ou fracassos da vida, ou com a rotina estressante e outros fatores, o desejo começa a nascer de novo, começa a querer tomar alguns minutos de seus pensamentos durante o dia. O seu lado racional de repúdio ao jogo começa a ser substituído pelo lado instintivo do desejo. Você começa a entrar em fóruns, a ver mais notícias sobre jogos ou qualquer coisa que represente uma volta ao vício quase que engatinhando, bem aos poucos. Se você resiste a isso, pelo menos comigo é assim, bate uma certa depressão algumas vezes, você fica meio triste, sem vontade de fazer mais nada, a única vontade é deitar e dormir, tentar “se apagar”.

Pelo menos comigo, depois de alguns meses, eu mal posso pensar em um jogo que vem uma saudade, um prazer enorme, um desejo grande... Você sente o cérebro reagindo, parece que ele libera algo na sua cabeça que te faz sentir prazer, mas um prazer muito momentâneo, que acaba mais aumentando a saudade desse prazer do que aliviando alguma coisa. Segundo a reportagem da revista Época, matéria que achei seu blog, o que é liberado no seu cérebro é dopamina. Mas seja lá o que for, é real.

Bem, não sei, você já está também alguns meses sem jogar, e sinto certa euforia em seu último texto, então, caso o desejo comece a voltar aos pouquinhos, Deus queira que não, eu aconselho a tentar algo que estou tentando agora, e pelo menos até o momento está funcionando. A primeira coisa é ter muitos compromissos, de preferência todos longe do computador. Sempre se ocupe com algo, isso vai aumentar bastante o tempo de duração da sua euforia e do seu “ódio” pelo vício, aquele que disse que vem no começo da abstinência.

A segunda coisa que estou tentando fazer é achar um hobby que seja compatível com o jogo. Quero dizer, jogar é ficar com a mente em suspensão, naquela concentração plena no jogo, num estado quase que zen. E existe por trás disso a motivação, já que sempre nos MMORPG tem algo para fazer, para se conseguir, para se derrotar e etc. Para buscar esse mesmo efeito de suspensão e motivação, eu já tentei aulas de música, tocar um instrumento, mas não deu, o instrumento que escolhi é um verdadeiro inferno para se aprender, é uma viola (igual ao violino, mas um pouco maior). Muito difícil para se aprender, fiz uma péssima escolha.

Atualmente, estou tentando um novo hobby, desenhar. Algo mais fácil e prático. Consigo exercer minha criatividade, até mesmo desenhar coisas fantasiosas como os temas dos jogos. Se a concentração no desenho for plena, você consegue efeitos parecidos com o jogo. Toda vez que surgia o pensamento sobre jogos na minha cabeça, isso dentro desse mês que comecei a mais nova abstinência, transferia toda minha ansiedade, todo o meu desejo para o desenho.

A motivação vem dos fóruns que acesso. Freqüento sites de desenho, já vi disputas entre desenhistas que posso participar e etc. Estou procurando meios que me motivem a desenhar, justamente o que a empresa do MMORPG procura para você jogar.

Já comprei um livro e vou ver se consigo prosseguir com esse “tratamento”, se der, vou entrar em uma escola. É mais uma tentativa entre as diversas que já tentei, e todas fracassaram, mas estou confiante nessa agora. Nunca passei tanto tempo em abstinência (1 mês e 3 dias) com a facilidade que estou tendo, por isso a confiança.

Quero que saiba que, apesar dessa agonia em que vivemos entre o desejo e a abstinência, entre o real e a ficção, acredito que o fato de não estarmos sozinhos e encontrarmos outras pessoas que sofrem da mesma agonia é algo que te dá esperanças, mesmo que te deixe triste, porque fico muito chateado quando descubro pessoas jogando sua vida fora por algo tão estúpido e inútil quanto um jogo. Até dormir, como você deu a entender no seu último texto, acredito ser mais recompensador.

Lamentamos e aprendemos com as experiências alheias, ficamos tristes e felizes, o que é provavelmente uma boa síntese da vida humana. Aprendi com o seu blog, espero que tenha alguma utilidade para você também ou para alguém o que escrevi.

Um forte abraço!

quarta-feira, setembro 26, 2007

Fase muito boa

Faz bastante tempo que não jogo, bastante mesmo. Talvez não para os padrões de pessoas que não tenham o vício, mas para mim, mais de dois meses sem jogar nem paciência é muito tempo.

Descobri nesse tempo todo, principalmente nesses dois meses, que você pode pode reproduzir todas as sensações, todos os atrativos que te sugam para os mundos virtuais dos games na vida real, e em maior intensidade e duração.

Pode parecer um chavão sem tamanho, mas o fato é que você deve viver e aproveitar todos os momentos do seu dia com prazer, com felicidade. É muito melhor você aproveitar um bom filme, extraindo ao máximo o tempo ao lado da esposa, a pipoca, mãos dadas, cabeça no ombro, enfim, tudo o que um cinema ou dvd podem propiciar do que passar essas mesmas duas horas num jogo, construindo um personagem virtual ou chegando mais e mais perto do fim de um jogo.

A sensação de vitória, de construção, vem quando você percebe que se estivesse jogando você não estaria ali, com aquela pessoa, naquele momento, e isso dura o tempo que você acreditar nisso. Ela é potencializada quando você percebe que a sensação de culpa não enevoa as de vitória e de conquista do objetivo, muito pelo contrário, estar fazendo o que você acredita ser certo e ter muito prazer com isso potencializa o momento. E SEM CULPA, isso é o principal. Viver sem culpa é realmente viver de verdade.

O importante é acreditar que o tempo que você passa no jogo é o tempo que você não está construindo seu futuro. O ciclo vicioso de "jogar porque tem medo da vida real, fazendo com que a vida real se torne mais difícil por estarmos perdendo oportunidades, dando-nos mais vontade de fugir para a vida virtual do jogo" precisa ser quebrado, e essa quebra é sempre difícil, dolorosa, demorada. Acredito hoje que estou bem próximo da quebra definitiva. Acredito também que o fato de estar cada vez mais afastado dos jogos me faz viver melhor meu momento na vida real, que não está fácil, mas a vida para muito poucos é fácil. Acredito que fazendo as coisas da maneira correta as oportunidades surgirão cada vez mais, como elas sempre surgem, mas você precisa estar atento quando elas passarem, porque a chance pode durar muito pouco, e você pode perdê-la por estar enfiado em outro mundo.

A vida pessoal está excelente, a vida profissional também e a vida financeira vem melhorando aos poucos, com muito sacrifício da família, mas vem melhorando. Como disse meu pai, se eu levei anos para me enfiar no buraco, nada mais normal do que demorar anos para sair. E claro que gastar dinheiro é mais divertido do que segurar e não gastar. Mas não existe um "load game" para você fazer melhores escolhas depois que jogou o dinheiro pelo ralo em compras e lazeres desnecessários, não existe uma forma de ganhar dinheiro rápido e salvar a situação. Mas a vida de todo mundo é assim, e para se sobressair você deve fazer coisas diferentes de todos, ou seja, fazer contas, economizar, gastar só o que tem, e por aí vai.

O importante é acreditar que jogar faz mal, para quem tem o vício, claro. Jogar uma horinha por dia pode parecer inofensivo, mas no final de um mês você terá jogado 30 horas, mais que um dia inteiro jogando. Se você tivesse gastado esse tempo vendo filmes, seriam 15 filmes; dormindo significaria dormir 9 horas ao invés de 8 ou 7 ao invés de 6, e uma hora a mais dormindo faz muito diferença; lendo livros seriam 2 livros no mês; fazendo esporte seriam 1 hora de esporte por dia, quando meia hora de caminhada por dia já faz maravilhas pela saúde. Isso tudo para 1 hora de jogo por dia, que parece tão inofensivo.

Eu estou desde o começo do ano nessa luta. Acredito que não tive nenhuma recaída, pois não perdi tempo precioso jogando, apesar de ter jogado coisas aparentemente inofensivas nesse tempo, muitas vezes com minha esposa para quando ela parasse, eu parasse também. Mas como a vontade continuava vindo dia após dia, principalmente nos dias difíceis, decidi que o que eu estava fazendo era pouco. Logo após meu aniversário decidi que não jogaria mais, e ponto final. Vou gastar neurônios e emoções em outras coisas. Vou arrumar meu jardim, fazer academia, trabalhar mais tempo, ficar de bobeira em casa com minha esposa, sei lá, mas não vou jogar. Tem dado certo por mais de dois meses, e a vontade de jogar vem diminuindo mais e mais, a ponto de eu esquecer por muitos dias que eu tive qualquer problema com isso na minha vida.

Cada dia longe do jogo, cada dia que eu vivo com prazer eu dou mais valor a isso. Estou construindo algo que nunca construiria dentro de jogo algum: a certeza de estar no caminho certo, do jeito certo, e aproveitando cada momento.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Artigos e sites sobre o vício

Fiz uma pesquisa rápida sobre o que já foi falado, isso só em português, sobre o vício em jogos eletrônicos, e comparado com um ano atrás, a quantidade é animadora (em relação a quanto isso está começando a ser tratado com seriedade), e claro, assustadora.

Primeiro os que estão na minha coluna lateral:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76953-6014,00.html
http://www.meiobit.com/arq/005907.html
http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT995660-1664,00.html
http://www.link.estadao.com.br/index.cfm?id_conteudo=4770

Depois outras que encontrei hoje:
http://ciberia.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=id.stories/5109
http://www.ovelho.com/modules/news/article.php?storyid=35830
http://pc.ptgamers.com/artigo.asp?id_artigo=51
http://info.abril.com.br/aberto/infonews/062007/28062007-14.shl
http://www.geek.com.br/modules/noticias/ver.php?id=9881&sec=7

Além disso um site interessantíssimo, em inglês, no mesmo estilo de JA, mas para jogadores eletrônicos:
http://www.olganonboard.org/

E no site do "O velho", ele reproduz o teste para começar a perceber se você é viciado.

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Responda as perguntas abaixo com sinceridade:
1) você alguma vez se pegou jogando por mais tempo do que gostaria ?
2) Você joga, freqüentemente, em longas seções, de mais de três horas?
3) Você joga todos os dias ?
4) Você já teve algum trabalho ou atividade importante para resolver que foi adiada (ou mesmo ignorada) por causa do jogo ?
5) Incluindo fins de semana e feriados ?
6) Você considera pizza e coca-cola como uma dieta normal e saudável ?
7) Você se sente impelido a "recompensar-se", depois de alguma tarefa ou objetivo alcançado, com uma rápida jogada ?
8) Você fica irritado ou agitado se não consegue jogar ou conectar ?
9) Você costumava praticar esportes, mas abandonou por causa do videogame?
10) Você já tentou diminuir o tempo que passa jogando ?
11) E falhou ?
12) Você já recebeu algum ultimato de parentes ou namorado(a) ?
13) E ignorou ?
14) Alguma vez já mentiu para parentes, amigos ou no trabalho sobre o quanto você joga ?
15) Você já sonhou com videogames ?
16) Alguma vez seu habito de jogar já lhe causou problemas na escola ou trabalho ?
17) Você fica seriamente aborrecido quando perde no jogo ?
18) Você fica pensando sobre a derrota ou perda sofrida no jogo por horas, ou mesmo dias ?
19) Você alguma vez usou termos como "flooder", "cheater", "ownage", "macroar", "respaw", "gibs", ou "lamerz" em conversas ? (algumas palavras são contribuições minhas ao questionário original)
20) A maioria dos seus amigos tem nomes como "hOt69", "Darth Derek", "kIlLeR", "Lord Loser", "StealthNet" ou "O Velho" ?
21) Quando alguém lhe conta uma piada, você diz "LOL" ao invés de rir?

Cada resposta positiva conta um ponto. Aqui esta seu "estado":
1-4 : Relaxe, você esta sob controle e os jogos são somente mais um componente do seu estilo de vida normal e saudável;
5-10: Você já estámostrando sinais de dependência.
11-15: Você está nos limites do"saudável". Você tem problemas para dizer "não" aos jogos e esta a poucos passos da total dependência.
16-21: Você é um dependente. Você não consegue mais viver sem os jogos e considera seu personagem virtual mais interessante do que você é na vida real. Procure ajuda.

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Bom, fiquei na última faixa, pensando nos meus piores meses de vício.

E pensando em como estou atualmente, graças a deus na primeira faixa. Isso pra mim é uma vitória sem preço, e me faz acreditar que todos podem conseguir o mesmo. O único problema, hoje e sempre, é que estou sempre a beira de voltar para a última faixa, basta um pequeno descuido. Sem faixas intermediárias, é direto mesmo para a última. Isso não quer dizer que sou melhor ou pior que ninguém, apenas estou longe por enquanto.

Fico muito feliz que mais e mais pessoas possam perceber que estão viciadas, que teêm uma doença emocional, e que tenham a oportunidade de controlar, de amadurecer. Quando isso se tornar mais conhecido, os jogos, a internet, deixarão de ser perigosos.

Mais histórias

Reproduzo aqui um dos comentários recebidos. Como ele não está em evidência, prefiro colocá-lo num novo post.

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De tantos em tantos tempo... depois de mil promessas, encontro novidades de internet no nosso computador. A última ... Second Life...

Mas um cara casado que entra até de madrugada, quando estou dormindo só pra poder falar com uma zinha do SL e que abre perfil de avatar no orkut, depois de ter prometido que não faria sexo pela internet...

Perdi a confiança e estou acabando com um casamento de 15 anos... Os nossos filhos ficam nervosos quando sento no computador pois sabem que o pai apronta e temem que eu descubra. Mal sabem eles que eu já sei. Vício...? Mas cansei... drogas e bebidas têm tratamento... tentei ajudar... desisti, cansei de me magoar.

Escrevo isso para que alguém que esteja passando por isso leia e saiba... se ele não quer ajuda, desista... se ajude... Saí magoada, me sentindo lixo e passando por louca desequilibrada, afinal, não tem nada demais...

Mas sinto falta de 15 anos atrás, quando ele ainda via graça na pureza da vida, no som da água do mar batendo nas pedras, do deitar na rede e curtir o som do mar... ouvir os pássaros...tomar sorvete caminhado na areia da praia. Olhar dentro dos olhos, tocar, sentir o calor, o amor...Mas em algum lugar da vida a gente se perdeu. Que pena.

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Difícil comentar uma situação assim, mas tem um ponto que eu venho pensando muito nos últimos tempos. O que é de fato o vício em jogos assim? Qual o ponto de partida para você começar a fazer algo que só vai te trazer problemas? Porque deixamos algo que sabemos que nos faz mal, e sabemos que faz mal para pessoas próximas, tomar conta de nossa vida, de nossos dias, nossas noites, nossa família?

O vício em jogos eletrônicos, bate-papo, internet no geral é como os outros vícios. Começa como novidade, diversão, integração com outras pessoas, etc, mas em algum ponto ele passa de um adicional na nossa vida para se tornar a razão da nossa vida. Esse ponto é quando percebemos, consciente ou inconscientemente, que precisamos de uma fuga da nossa vida diária. Se já não gostamos de um aspecto de nossa vida por si só, a vida real perde do longe quando comparada ao que é fornecido nos jogos ou na internet.

Os jogos, a internet, tudo é sobre ilusão. Quem eu quero ser no jogo, quem eu quero ser na sociedade virtual, o que eu quero esconder da minha vida real que eu não gosto, e o que eu gosto e quero mostrar. E não estou generalizando, é assim também na vida real. Quando você começa a conhecer outra pessoa dificilmente vai sair falando dos seus defeitos, você vai falar das suas qualidades, obviamente. O ponto é que com os jogos interativos, com a internet, você pode manter essa imagem de "apenas qualidades" indefinidamente, você pode aumentá-las, você pode inventar novas, ninguém vai duvidar mas, na vida real, uma hora a máscara cai. Vem daí o mundialmente famoso conselho: seja quem você é. Não fingir nada para as outras pessoas, pelo menos as mais próximas, é a melhor maneira de garantir um relacionamento por muito tempo.
Aí entram os jogos que estimulam você a ser outra pessoa, ter outra vida, ter uma segunda vida, uma segunda chance. Para quem tem problemas na vida real é um prato cheio para fugir, para se esconder. É muito mais fácil fingir que não tem nada de ruim acontecendo e começar de novo do zero, ter 20 anos novamente, não ter responsabilidades nem problemas ... Com bebida, drogas, jogos de azar, ou qualquer outro vício, o princípio é exatamente o mesmo: fugir da realidade. Só mudam os meios, uns menos piores que os outros, uns com aparência de normalidade maior que os outros.

Nesse ponto preciso frisar que não sou contra os criadores dos jogos, não sou contra quem realmente se diverte nos jogos ou na internet, mas infelizmente isso não é possível para todo mundo. Existem pessoas, muitas, que se perdem no mundo imaginário, e são apenas elas próprias, os familiares, os amigos que conseguem identificar o problema. Quem está com elas no jogo ou na internet, mesmo os administradores dos jogos, não podem imaginar que ela está com um problema, que ela tem uma doença.

Assim, para tentar entender quem tem o problema, para tentar ajudar, ou continuar ajudando, é preciso saber do que ele está fugindo, do que ele não gosta na vida real, o que acontece na vida dele que ele gostaria de mudar, do que ele se esconde criando novas personalidades, avatares, nicks de bate-papo, personagens, etc. E nessa hora não é simplesmente falar que tudo vai mudar, tudo vai ser maravilhoso e que no dia seguinte o mundo será novamente um lugar lindo. A vida é difícil, o mundo é uma bosta, ninguém está aqui a passeio, todo mundo tem que batalhar para resolver os problemas financeiros, problemas no trabalho, problemas no relacionamento, na família, porra, problemas até com os vizinhos, carros, cachorro, gato, sei lá!!!! A mágica de tudo é ver que as pequenas felicidades do dia a dia são milhares, milhões de vezes mais importante do que os problemas do dia a dia. Sem estar gostando da vida você não resolve nenhum dos problemas, quanto mais todos. E existem ainda os que são insolúveis!! Ou seja, é realmente difícil, e esconder embaixo do tapete não é de forma nenhuma um bom caminho.

A complacência é o pior que os viciados podem receber de quem está próximo. Nós sabemos que fizemos merda, que está errado. Quando voltamos ao pouco pro objeto do nosso desejo, sabemos que não devíamos, que aquilo faz mal, mas contra-atacamos com o célebre "um pouquinho não vai matar ninguém" e aí começa tudo de novo. Mas se quem espera ajudar ficar passando a mão na cabeça, a parte infantil da nossa cabeça vai se regozigar, e vai querer cada vez mais. No meu caso um relacionamento, até então perfeito, de quase 4 anos; no caso lá de cima, de 15 anos, ambos em perigo só porque o problema não foi tratado com seriedade. Se existissem formas de colocar-nos longe de um computador por seis meses, conseguiríamos controlar o vício mais facilmente, mas isso não é possível na realidade de hoje.

O primeiro passo é entender que existe um problema, uma doença emocional. Enquanto ele não entender isso, não há o que fazer. Mostre artigos, blogs, notícias, etc, que provem que a doença existe, e que ele sofre dela. O segundo passo é perceber o que isso vai tirar dele e, principalmente, o que já tirou. O terceiro passo é querer acabar com isso e voltar a ter uma vida normal. E o quarto passo, que nunca será concluído completamente, é se manter longe da primeira queda, com muito apoio de quem é próximo.

Não falo isso tudo como o dono da verdade, das respostas, falo como alguém que já passou por isso, que se atirou duas vezes no abismo. Na primeira perdi a faculdade que ralei por um ano no cursinho pra entrar. Na segunda quase perdi o casamento. Hoje só estou longe porque tenho puro medo de começar tudo de novo, tenho medo do meu vício, porque sei que se acontecer de novo, vou jogar no lixo tudo o que eu sou hoje, tudo o que consegui, mesmo que aos trancos e barrancos, vou jogar fora 4 anos da minha vida, que iriam se somar a outros 4 que já não tem recuperação.

É difícil para quem não tem esse problema entender porque a pessoa não consegue simplesmente parar, se manter longe e pronto. Mas o que nos leva a querer voltar é a decepção com o estado atual na vida, mesmo que seja em apenas um aspecto, e as promessas, na verdade mais que promessas: as lembranças de quando tínhamos tudo o que queríamos, éramos tudo o que quiséssemos em outro mundo. O sucesso no mundo virtual é instantâneo, e é difícl querer trocar o instantâneo pelo longo prazo. No fundo somos simplesmente egoístas, paramos de pensar que existem pessoas se machucando em volta, e continuamos fazendo assim mesmo. Nosso umbigo é o que importa, um comportamento simplesmente infantil. Essa área da nossa personalidade esqueceu de crescer.

No meu caso, quando entendi que ia perder a parte de mim que eu mais gosto, consegui mudar os pesos nessa balança. Quando entendi que conseguir o que se quer depois de lutar por meses é muito mais gratificante que conseguir o que se quer depois de 10 minutos, várias vezes por dia. Excesso de sucesso nos torna vazios.

Nesse momento eu amadureci um pouco, na pancada. Foi uma semana na minha vida em que eu não era ninguém, eu era etéreo. Tudo o que eu acreditava que eu era, tudo o que era importante pra mim, eu tinha ou jogado no lixo, ou quase. É disso que precisamos, de muita pancada, para perceber que existem pessoas que, por mais merda que você tenha feito, ainda gostam o suficiente de você para se sentirem fisicamente machucadas pelo que você fez, que perdem tempo e saúde chorando por você, que gostam a ponto de, mesmo querendo que você suma da vida delas, estenderem a mão para tentar ajudar. Infelizmente só começamos a sair dessa se realmente quisermos e, graças a deus, aqueles dias foram definitivos para eu ter certeza de que queria sair.

No caso do casamento de 15 anos acima me parece que ele ainda não percebeu que tem um problema, e que é sério. Se ele precisa esconder, é porque ele sabe que está errado, e se isso está fazendo o que resta do casamento ruir, então ele precisa querer acabar com isso. Até diria que ela não está necessariamente querendo conhecer mulheres no Second Life ou em bate-papos, o que ele quer é a fuga de um problema real, talvez até mesmo da situação real do casamento. Mas é preciso saber do que ele está fugindo, porque está com medo de encarar a realidade.

Se o que ele quer é ficar sozinho, ele precisa no mínimo ter força pra falar isso com todas as palavras. Se ele quer deixar a situação ir aos poucos por água-abaixo, isso será a ruína dele como pessoa. Quando tudo terminar ele vai continuar achando que foi porque sim, e não por culpa do vício, e vai jogar mais coisas além do casamento no lixo. Mas se terminar porque ele achava que era melhor, ele vai poder parar de se esconder desse problema no mundo virtual, e encarar a vida como ela vai passar a ser. E se tudo melhorar aos poucos (e demora), ótimo, mas não é garantido. De qualquer forma o mais importante é agora é ele como pessoa, como homem, como pai. Não sei em que ponto está realmente ele como marido, se tem volta ou não, mas o que pode ser perdido é mais que o casamento.

Na coluna lateral está o link para os jogadores anônimos (JA). Os mesmo princípios de recuperação dos vícios em bebida e drogas são utilizados para a recuperação do vício em jogos, no caso focado em jogos de azar. Eu passei cerca de 1 mês visitando as reuniões de JA, e isso me ajudou muito. Dividir os problemas com estranhos, ouvir os problemas de estranhos, mexe com a gente. O fato é que poderíamos estar bem pior se o vício fosse um pouco diferente. E o Second Life nesse ponto é perigoso, pois você pode de fato gastar dinheiro real lá dentro, e problemas financeiras são as últimas coisas que vocês precisam agora.

Bom, espero que junto com meu desabafo eu tenho podido dizer uma frase que seja que ajude alguma coisa. Não me considero curado, porque isso não tem cura, mas me considero são hoje, e gostaria que todos que passaram ou passam por isso pudessem sentir o prazer, a força que sinto hoje pra me manter afastado. Cada vez que ouço histórias assim eu revivo tudo o que eu passei, e meu dia fica mais sombrio, mas se puder ajudar um mínimo que seja uma pessoa que esteja passando por isso, e que talvez nem saiba, eu já me sinto menos em débito com as pessoas que amo.

Ficam aqui meus desejos de melhora para ele e para o relacionamento.